30 janeiro 2007

Memória maltratada

Memória maltratada
Trecho de muro do século XX é destruído por britadeiras


Um marco do início do século XX, a cerca de dois metros da superfície da Avenida Presidente Antonio Carlos, no Centro, foi parcialmente destruído a golpes de britadeiras, conforme noticiou ontem Ancelmo Gois em sua coluna no Globo. O achado histórico surgiu após escavações para a construção de uma garagem subterrânea que está sendo feita pela RioUrbe e pela concessionária Auto Park. Por conta de um decreto municipal de 2003, toda a construção que envolve escavações deve ser acompanhada por arqueólogos. Mas, segundo a arqueóloga Gláucia Malerba Sene, responsável pelo monitoramento da obra, a empresa Auto Park dispensou-a em dezembro alegando que as escavações seriam interrompidas.

-- Eles continuaram sem o acompanhamento arqueológico. No dia 19, fui chamada com urgência. A remoção era necessária, mas foi inadequada -- disse.

No mesmo dia, o superintendente regional do Iphan, Carlos Fernando Andrade, embargou a construção. Depois, decidiu que dos cerca de 20 metros do muro, serão preservados apenas cinco metros em cada uma das laterais, para não impedir a passagem dos veículos. O secretário-extraordinário de Patrimônio Cultural, André Zambelli, lamentou a remoção inadequada, mas disse que a muralha não podia inviabilizar a obra. Segundo o historiador Milton Teixeira, o muro foi erguido em 1904, a mando do prefeito Pereira Passos, para conter o mar que beirava a Rua Santa Luzia.


Matéria de Jacqueline Costa publicada no jornal O Globo de 27 de janeiro de 2007