19 março 2007

Elio Gaspari

A prova de 2007 foi colada. Era de 2003
Vinte perguntas de biologia, todas idênticas,foram recicladas e mantidas na mesma seqüência


Aluno colando em prova é coisa velha. Professor de banca examinadora colando prova velha é novidade. Vinte perguntas de um dos exames do concurso público realizado no dia 11 pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal, o Ibam, para a Fundação de Saúde de Niterói, foram grosseiramente copiadas de uma prova de 2003, dada em Campinas.

A cola foi descoberta por um candidato. Num exemplo de responsabilidade pública e individual, ao saber da denúncia, o Ibam confirmou a impropriedade, destituiu a banca e pediu explicações ao autor das questões. O professor Antonio Luiz Almada Horta, da UFRJ, admitiu o erro e externou seu arrependimento. Ele fora o autor das perguntas aplicadas na prova de Campinas e simplesmente reutilizou-as, apesar de ter sido contratado para formular questões inéditas. O caso foi esclarecido em apenas três dias.
A provas de Niterói tiveram 29 mil candidatos, quase todos jovens, disputando salários de R$488 a R$1.128. Gente que estudou para amarrar seu futuro a um trabalho, acreditando que está num mundo que os respeita. A primeira surpresa veio quando o exame foi anulado por suspeita de quebra do sigilo pela abertura indevida de envelopes.

A segunda veio para os 310 candidatos às vagas de técnico de laboratório.

No segmento de conhecimentos técnico-profissionais, perguntara-se em Campinas:

“Exame parasitológico baseado em centrífugo-flutuação em solução de sulfato de zinco com densidade 1.180, chama-se (...):”

Em Niterói perguntou-se:

“O exame parasitológico baseado em centrífugo-flutuação em solução de sulfato de zinco com densidade 1.180, chama-se (...):”
A cola seguiu religiosamente a seqüência das vinte perguntas originais, disponíveis na internet. Em todas, foi suprimida uma opção e alterada a ordem das demais. Isso indica que o professor foi movido muito mais pela ligeireza do que por qualquer interesse na violação do sigilo. Ninguém foi prejudicado.

Houve um malfeito e, num exemplo que bem poderia ser copiado em Brasília, cada parte assumiu rapidamente seu pedaço da encrenca. Um caso que começou mal e que, pelo menos, termina de forma honesta.

Jornal O Globo, coluna de Elio Gaspari, 18 de março de 2007