07 fevereiro 2007

Vinho brasileiro

Vinho brasileiro, status mundial
Produto do Vale dos Vinhedos, no Sul, ganha indicação geográfica reconhecida pela UE

Vivian Oswald*, Chico Oliveira e Janaína Figueiredo**


Os vinhos gaúchos da região do Vale dos Vinhedos agora fazem parte da seleta lista das chamadas indicações geográficas reconhecidas pela União Européia (UE), ao lado de Champagne, Bordeaux, Brunello de Montalcino, Rioja, Douro, entre outras regiões conhecidas dos amantes da bebida. Esta é a primeira vez que europeus reconhecem uma denominação de origem de fora. A decisão inédita também inclui a denominação Napa Valley, dos Estados Unidos.

A novidade pode significar um importante impulso para a imagem dos vinhos gaúchos na disputa pelo mercado europeu. A indicação geográfica é como um atestado de qualidade. Quer dizer que aquele produto é fabricado em uma determinada região, segundo regras e padrões rigorosos de qualidade preestabelecidos. Ou seja, apenas o que for produzido entre os municípios de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Garibaldi, na Serra Gaúcha, a 120 quilômetros de Porto Alegre — o Vale dos Vinhedos —, segundo as normas definidas pelos produtores, pode ser vendido aos europeus com este nome. Em 2006, a região exportou 500 mil litros de vinho para a UE.

A notícia foi recebida com euforia em Bento Gonçalves, epicentro da região e onde, por coincidência, está sendo realizada a Festa Nacional do Vinho (Fenavinho), com a participação de 84 vinículas. Os produtores acreditam que a medida vai melhorar a imagem do vinho brasileiro.

— Isso levanta nossa auto-estima e vai animar as vinícolas, que estavam meio desiludidas com a situação do nosso mercado interno, pois 65% do vinho consumido no país é importado e não é de boa qualidade. Temos uma cruzada pela frente, e essa notícia nos dá uma arma a mais para brigar — disse ontem Luis Henrique Zanini, da Vinícola Valontano e presidente da Associação dos Produtores do Vale dos Vinhedos (Aprovale), detentora da marca Vale dos Vinhedos.


Região exportou 500 mil litros


O prefeito de Bento Gonçalves, Alcindo Gabrielli, e o presidente da Fenavinho, Tarcísio Michelon, também comemoraram.

— Além do impacto no consumo, também já contamos com um grande incremento no enoturismo — afirmou Michelon.

— O vinho representa 9% da economia do nosso município e já apostamos em uma participação maior — disse, por sua vez, Gabrielli.

Para obter a aprovação da UE, é preciso encaminhar a solicitação ao Comitê de Gestão de Vinhos da UE relacionando a existência de uma região bem delimitada e com um nome que a distinga de áreas vizinhas, bem como a adoção de mecanismos institucionais que assegurem a qualidade e a uniformidade da produção.

Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Carlos Raimundo Paviani, o Rio Grande do Sul — responsável por mais de 90% da produção nacional — produziu no ano passado 217 milhões de litros, dos quais 32 milhões de litros de vinhos finos, incluindo espumantes. Desses últimos, 6,9 milhões (21,5%) de litros vieram do Vale dos Vinhedos, que exportou pouco mais de 500 mil litros, com uma receita de US$1,2 milhão. Do total exportado pelo estado, 33% destinaram-se aos EUA, 17% à Alemanha, 16% à Suíça, 15% seguiram para a Rússia, 9% para o Japão, e os 10% restantes, a outros países.


— Como os vinhos de maior valor agregado destinam-se à Europa, o reconhecimento do Vale dos Vinhedos pela UE abre perspectivas muito boas — afirmou Paviani.

Apesar da fama que vêm ganhando vinhos argentinos e chilenos pela Europa, cada vez mais vendidos em supermercados especializados e restaurantes, ainda não houve reconhecimento de suas indicações geográficas. Segundo o especialista Juan Carlos Piña, gerente da Bodegas de Argentina, isso se deve a uma estratégia de comercialização, que não passa por esse tipo de reconhecimento.

— Nossa estratégia internacional é outra — disse Piña.



Publicado no jornal O Globo, 03 de fevereiro de 2007


(*) Especial para o GLOBO
(**) Correspondente