30 outubro 2007

Hans Stern



Hans Stern, um nome que virou sinônimo de jóia


Natural de Essen, na Alemanha, Hans Stern nasceu cego e só começou a enxergar aos 2 anos de idade — e, mesmo assim, apenas com o olho direito. A deficiência, no entanto, nunca foi empecilho para seu sucesso num ramo que requer acuidade e perícia visuais. Seu gosto pelas pedras coloridas — numa época em que os joalheiros só se interessavam por pedras orientais, como rubis, safiras e esmeraldas — acabou transformando Hans num bem-sucedido homem de negócios. Ele emprestou seu nome e sobrenome para uma marca que, hoje, designa uma das cinco mais prestigiosas joalherias do mundo: a H. Stern.

A história de sucesso da H. Stern começou a ser escrita quando Hans tinha 17 anos: ele trabalhava na Cristab, uma empresa exportadora de minerais e pedras preciosas. Tendo fugido da Alemanha nazista, o jovem chegou aqui com míseros dez marcos no bolso. Em 1949, abriu a primeira loja da H.Stern, localizada na estação de desembarque dos navios, na Praça Mauá. O sucesso foi explosivo: a H. Stern se tornou uma das primeiras multinacionais brasileiras e, hoje, está presente nos principais endereços da moda internacional: Quinta Avenida, em Nova York; Neuer Hall, em Hamburgo; e 5 Höfe, em Munique.

Chamado pela revista americana “Time” de o “rei dos diamantes e gemas de cor”, Hans era um ilustre anônimo. Para manter esse “privilégio”, ele se negava a dar entrevistas e era avesso a fotos. Também não freqüentava os endereços da moda, andava sem seguranças e dirigia seu próprio carro: um Fusca. Seus luxos: coleções de selo e de turmalinas raras (esta, considerada uma das maiores do mundo).

São muitas as histórias que alimentam o mito Hans Stern, mas a que melhor traduz sua personalidade é a do publicitário Armando Strozenberg. O ano era 2002. Hans tinha sido indicado para o Prêmio Comunicação da Associação Brasileira de Propaganda (ABP). Sua indicação causou espanto, já que o prêmio só poderia ser dado a uma pessoa física. Strozenberg, autor da indicação, respondeu que o homenageado era Hans Stern e, para sua surpresa, ouviu de um dos membros da ABP: “Quer dizer que o H. Stern existe?”

Hans foi o responsável pelos primeiros desfiles de jóias no Brasil, lançou o relógio de pulso elétrico no país e abriu a primeira escola de ourives. Foi dele a idéia de lançar coleções assinadas por personalidades, como a atriz francesa Catherine Deneuve, e nomes nacionais, como os artistas plásticos Roberto Moriconi e Ana Bella Geiger, a jornalista e estilista Costanza Pascolato, o cantor e compositor Carlinhos Brown e os designers Humberto e Fernando Campana.

— Até a filantropia era exercida com discrição — lembra o rabino Nilton Bonder, que costumava encontrar Hans Stern caminhando anonimamente pelas ruas.

Discrição era, sem dúvida, a marca registrada desse empresário, que, apesar da idade avançada e de estar doente, cumpria uma rotina de trabalho espartana. Todos os dias, pontualmente às 8h30m, ele chegava à sede da empresa, em Ipanema. O único luxo da sua sala de trabalho era o aparelho de som, que passava o dia inteiro ligado. Hans era um amante da música clássica.

Como presidente do Conselho de Administração da H. Stern — uma rede com 160 lojas próprias espalhadas por 12 países — Hans acompanhava de perto a gestão dos seus dois principais executivos: Richard Barczinski e Victor Natenzon, respectivamente presidente e vice-presidente da empresa. Apesar de dois dos seus quatro filhos trabalharem na rede (Roberto e Ronaldo), a H. Stern sempre teve uma gestão profissionalizada. O grupo não tinha por prática divulgar seus balanços financeiros, mas estima-se algo em torno de R$400 milhões.

Hans, de 86 anos, morreu e foi sepultado ontem, no início da tarde, no Cemitério Comunal do Caju, no Rio de Janeiro. Ele vinha lutando contra um câncer de pele bastante agressivo. Oficialmente, Hans morreu devido a “causas naturais”. O enterro foi organizado às pressas, já que, pela tradição judaica, sábado é considerado um dia sagrado, o Shabat, e não pode haver sepultamentos. Além dos parentes, sua esposa, Ruth, seus quatro filhos (Roberto, Ricardo, Ronaldo e Rafael) e seis netos, poucos amigos e companheiros de trabalho compareceram à cerimônia. Os familiares cumpriram o desejo de Hans, que levou uma vida discreta e sem ostentação.

— Stern era franciscano. Ele era o nosso Mahatma Gandhi — lembra Ozias Wurman, ex-presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj) e amigo da família.


Publicado no jornal O Globo em 27 de outubro de 2007.

A discrição deste homem talentoso, empresário de sucesso, vitorioso em todos os sentidos é de uma grandeza ímpar principalmente em nossos tempos onde se faz de tudo por menos de cinco minutos de fama. Exemplos de vida como o de Hans Stern é que merecem ser seguidos e admirados. Registro minha admiração por este ser humano e meus respeitos aos seus familiares.