14 fevereiro 2007

Amazônia para sempre




CARTA ABERTA DE ARTISTAS BRASILEIROS SOBRE A DEVASTAÇÃO DA AMAZÔNIA



Acabamos de comemorar o menor desmatamento da Floresta Amazônica dos últimos três anos: 17 mil quilômetros quadrados. É quase a metade da Holanda. Da área total já desmatamos 16%, o equivalente a duas vezes a Alemanha e três Estados de São Paulo. Não há motivo para comemorações. A Amazônia não é o pulmão do mundo, mas presta serviços ambientais importantíssimos ao Brasil e ao Planeta. Essa vastidão verde que se estende por mais de cinco milhões de quilômetros quadrados é um lençol térmico engendrado pela natureza para que os raios solares não atinjam o solo, propiciando a vida da mais exuberante floresta da terra e auxiliando na regulação da temperatura do Planeta.


Depois de tombada na sua pujança, estuprada por madeireiros sem escrúpulos, ateiam fogo às suas vestes de esmeralda abrindo passagem aos forasteiros que a humilham ao semear capim e soja nas cinzas de castanheiras centenárias. Apesar do extraordinário esforço de implantarmos unidades de conservação como alternativas de desenvolvimento sustentável, a devastação continua. Mesmo depois do sangue de Chico Mendes ter selado o pacto de harmonia homem/natureza, entre seringueiros e indígenas, mesmo depois da aliança dos povos da floresta “pelo direito de manter nossas florestas em pé, porque delas dependemos para viver”, mesmo depois de inúmeras sagas cheias de heroísmo, morte e paixão pela Amazônia, a devastação continua.


Como no passado, enxergamos a Floresta como um obstáculo ao progresso, como área a ser vencida e conquistada. Um imenso estoque de terras a se tornarem pastos pouco produtivos, campos de soja e espécies vegetais para combustíveis alternativos ou então uma fonte inesgotável de madeira, peixe, ouro, minerais e energia elétrica. Continuamos um povo irresponsável. O desmatamento e o incêndio são o símbolo da nossa incapacidade de compreender a delicadeza e a instabilidade do ecossistema amazônico e como tratá-lo.
Um país que tem 165.000 km2 de área desflorestada, abandonada ou semi-abandonada, pode dobrar a sua produção de grãos sem a necessidade de derrubar uma única árvore. É urgente que nos tornemos responsáveis pelo gerenciamento do que resta dos nossos valiosos recursos naturais.


Portanto, a nosso ver, como único procedimento cabível para desacelerar os efeitos quase irreversíveis da devastação, segundo o que determina o § 4º, do Artigo 225 da Constituição Federal, onde se lê:
"A Floresta Amazônica é patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais"


Assim, deve-se implementar em níveis Federal, Estadual e Municipal A INTERRUPÇÃO IMEDIATA DO DESMATAMENTO DA FLORESTA AMAZÔNICA. JÁ!


É hora de enxergarmos nossas árvores como monumentos de nossa cultura e história.


SOMOS UM POVO DA FLORESTA!

07 fevereiro 2007

Ancelmo Gois

Estréia dia 11/02 o site do Ancelmo no Globo Online
O Rio, o Brasil e o munddo sob diferentes ângulos. Inclusive o seu.
http://www.oglobo.com.br/rio/ancelmo


O site do Ancelmo Gois no Globo Online vai ter de tudo. Notícias quentes, comentários, economia, política, piadas, eventos sociais e aquele olhar, ao mesmo tempo crítico e bem-humorado, que é uma marca registrada da sua coluna. Tudo sobre o Brasil, mas sem tirar um olho do Rio, que vai ser assunto das colunas de Aydano André Motta, Ana Cláudia Guimarães, Márcia Vieira, Marceu Vieira e outros craques. E o mais importante é que você, leitor, vai participar ativamente do blog, enviando fotos curiosas, informações e comentários. Venha fazer parte da turma da coluna. A partir de 11/02, somente no Globo Onlina.

Vinho brasileiro

Vinho brasileiro, status mundial
Produto do Vale dos Vinhedos, no Sul, ganha indicação geográfica reconhecida pela UE

Vivian Oswald*, Chico Oliveira e Janaína Figueiredo**


Os vinhos gaúchos da região do Vale dos Vinhedos agora fazem parte da seleta lista das chamadas indicações geográficas reconhecidas pela União Européia (UE), ao lado de Champagne, Bordeaux, Brunello de Montalcino, Rioja, Douro, entre outras regiões conhecidas dos amantes da bebida. Esta é a primeira vez que europeus reconhecem uma denominação de origem de fora. A decisão inédita também inclui a denominação Napa Valley, dos Estados Unidos.

A novidade pode significar um importante impulso para a imagem dos vinhos gaúchos na disputa pelo mercado europeu. A indicação geográfica é como um atestado de qualidade. Quer dizer que aquele produto é fabricado em uma determinada região, segundo regras e padrões rigorosos de qualidade preestabelecidos. Ou seja, apenas o que for produzido entre os municípios de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Garibaldi, na Serra Gaúcha, a 120 quilômetros de Porto Alegre — o Vale dos Vinhedos —, segundo as normas definidas pelos produtores, pode ser vendido aos europeus com este nome. Em 2006, a região exportou 500 mil litros de vinho para a UE.

A notícia foi recebida com euforia em Bento Gonçalves, epicentro da região e onde, por coincidência, está sendo realizada a Festa Nacional do Vinho (Fenavinho), com a participação de 84 vinículas. Os produtores acreditam que a medida vai melhorar a imagem do vinho brasileiro.

— Isso levanta nossa auto-estima e vai animar as vinícolas, que estavam meio desiludidas com a situação do nosso mercado interno, pois 65% do vinho consumido no país é importado e não é de boa qualidade. Temos uma cruzada pela frente, e essa notícia nos dá uma arma a mais para brigar — disse ontem Luis Henrique Zanini, da Vinícola Valontano e presidente da Associação dos Produtores do Vale dos Vinhedos (Aprovale), detentora da marca Vale dos Vinhedos.


Região exportou 500 mil litros


O prefeito de Bento Gonçalves, Alcindo Gabrielli, e o presidente da Fenavinho, Tarcísio Michelon, também comemoraram.

— Além do impacto no consumo, também já contamos com um grande incremento no enoturismo — afirmou Michelon.

— O vinho representa 9% da economia do nosso município e já apostamos em uma participação maior — disse, por sua vez, Gabrielli.

Para obter a aprovação da UE, é preciso encaminhar a solicitação ao Comitê de Gestão de Vinhos da UE relacionando a existência de uma região bem delimitada e com um nome que a distinga de áreas vizinhas, bem como a adoção de mecanismos institucionais que assegurem a qualidade e a uniformidade da produção.

Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Carlos Raimundo Paviani, o Rio Grande do Sul — responsável por mais de 90% da produção nacional — produziu no ano passado 217 milhões de litros, dos quais 32 milhões de litros de vinhos finos, incluindo espumantes. Desses últimos, 6,9 milhões (21,5%) de litros vieram do Vale dos Vinhedos, que exportou pouco mais de 500 mil litros, com uma receita de US$1,2 milhão. Do total exportado pelo estado, 33% destinaram-se aos EUA, 17% à Alemanha, 16% à Suíça, 15% seguiram para a Rússia, 9% para o Japão, e os 10% restantes, a outros países.


— Como os vinhos de maior valor agregado destinam-se à Europa, o reconhecimento do Vale dos Vinhedos pela UE abre perspectivas muito boas — afirmou Paviani.

Apesar da fama que vêm ganhando vinhos argentinos e chilenos pela Europa, cada vez mais vendidos em supermercados especializados e restaurantes, ainda não houve reconhecimento de suas indicações geográficas. Segundo o especialista Juan Carlos Piña, gerente da Bodegas de Argentina, isso se deve a uma estratégia de comercialização, que não passa por esse tipo de reconhecimento.

— Nossa estratégia internacional é outra — disse Piña.



Publicado no jornal O Globo, 03 de fevereiro de 2007


(*) Especial para o GLOBO
(**) Correspondente

Em quem o brasileiro vota - Parte 3

Ministro do STF desafia Congresso


O ministro do STF Marco Aurélio de Mello disse ontem que trocaria seu salário de R$ 24.500 pelos 12.847 dos parlamentares, se recebesse os demais benefícios. A declaração irritou deputados e senadores.


Matéria de primeira página do jornal O Globo em 06 de fevereiro de 2007

Amor eterno





Abraçados pela eternidade
Arqueólogos descobrem na Itália esqueletos de casal sepultado unido há mais de cinco mil anos



Roma - Arqueólogos italianos que escavavam nos arredores de Mantova, no norte da Itália, fizeram uma surpreendente e romântica descoberta: dois esqueletos, enterrados com os braços entrelaçados, numa inequívoca pose de abraço. No caso, um abraço que já dura de 5 mil a 6 mil anos, estimam os especialistas.

-- É um caso extraordinário - afirmou Elena Menotti, coordenadora do grupo de arqueólogos. -- Nunca encontramos na Itália um sepultamento duplo da Idade da Pedra, muito menos de duas pessoas se abraçando. E eles estão mesmo se abraçando.

A arqueóloga afirmou ser quase certo de que se trata de um homem e uma mulher, embora o dado ainda precise ser confirmado. E mais: eles morreram jovens porque seus dentes ser revelaram intactos, muito pouco gastos.

-- Devo dizer que quando fizemos a descoberta, ficamos todos muito felizes. Faço esse trabalho há 25 anos. Já participei de escavações em Pompéia, em todos os sítios famosos - contou a especialista. -- Mans nunca tinha ficado tão tocada. Essa é a descoberta de alguma coisa muito especial.

Testes de laboratório tentarão determinar a idade exata do casal no momento de sua morte e há quanto tempo eles estão enterrados. Os cientistas querem ainda comprovar, para além de qualquer dúvida, se estão mesmo diante dos restos mortais de um homem e uma mulher.

Mas, qualquer que seja o sexo dos sepultados, o símbolo do abraço eterno permanece, apontam os pesquisadores.




Publicado no jornal O Globo no dia 7 de fevereiro de 2007.

02 fevereiro 2007

Niemeyer 5

O presente de Niemyer à hospitalidade francesa
Escultura inaugurada anteontem, nos jardins de Bercy, em Paris, custou 300 mil dólares





Uma escultura de aço, de 11 por seis metros, como se fosse uma mão com uma flor, pintada de vermelho, a cor do seu Partido Comunista. Foi este o presente de Oscar Niemeyer para a cidade que o abrigou nos tempos de exílio político, inaugurada anteontem, no centro de Paris.

Ela está nos jardins de Bercy, ao lado do prédio desenhado pelo arquiteto canadense Frank Gehry, num espaço consagrado a Itzak Rabin, o líder israelense morto em 1995 por um reliogioso fundamentalista, e em frente à enorme passarela em homenagem à escritora francesa Simone de Beauvoir, inaugurada há um ano.

Na cerimônia de inauguração, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoe, contou como surgiu o projeto, em sua visita ao Brasil, em janeiro de 2004:

--Ia para São Paulo quando me disseram que Oscar Niemeyer queria me ver. "Quem sou eu?", pensei. Mudei o meu programa. Quando cheguei na casa dele, naquele magnífico prédio de Copacabana no estilo art déco, ele me disse que queria dar um presente à Paris. Encontrá-lo foi uma das experiências pessoais mais humanas que tive - disse.



Niemeyer já tinha três outras obras em Paris


Segundo o prefeito, Niemeyer apresentou o primeiro esboço naquele momento:

-- Ele me falou de paz e liberdade, mostrou-me o desenho e me perguntou: "Você gosta? Quer mudar algo?" Imagina! Eu estava como uma criança diante de Niemeyer. Ele é um herói em Paris. Nós é que temos que agradecer.

A empolgação do prefeito ao falar do arquiteto e da relação dos parisienses com o Brasil foi tal que ele virou-se para Vera Pedrosa, embaixadora do Brasil na França, para dizer que era preciso que fizesse com que mais brasileiros venha a Paris, "porque eles contribuem muito para a cidade". A escultura é a quarta obra do arquiteto em Paris, depois da sede do Partido Comunista, da Bolsa do Trabalho, em Bobgny, e da sede do jornal "L'Humanité", em Saint-Denis.

Niemeyer deu a idéia de presente, mas sua execução teve um custo: US$ 300 mil, pagos pelo Carrefour Brasil.


Matéria de Deborah Berlinck publicada no jornal O Globo, Segundo Caderno, no dia 01 de fevereiro de 2007

01 fevereiro 2007

Niemeyer 4


Um ‘vetor’ apontado para os EUA
Niemeyer revela maquete de monumento encomendado por Chávez


Da gestação de seus ideais revolucionários (livrar toda a América do jugo espanhol) à realização efetiva do seu projeto histórico, Simón Bolívar precisou de mais de uma década. Para projetar um monumento em sua homenagem (a pedido do presidente venezuelano, Hugo Chávez), Oscar Niemeyer precisou de apenas um fim de semana.

— Ele me pediu informalmente quando veio me visitar aqui em casa. Eu estava sem nada para fazer, então rabisquei um pouco no papel e quando vi o monumento estava ali, pronto — explica o arquiteto, entusiasta do líder venezuelano, fazendo pouco da maquete de papelão sobre mesa de trabalho na sala de seu apartamento em Ipanema, onde recupera-se à base de fisioterapia de um tombo que levou meses atrás.

Difícil, porém, desdenhar, ainda que em esforço de fairplay, da estrutura de 100 metros em balanço livre a ser erguida em Caracas e destinada a bater o recorde mundial do concreto armado.

— Olha, está apontado para os Estados Unidos — arrisca Niemeyer, parecendo experimentar um prazer supremo em imaginar as conseqüências, ainda que simbólicas, de se apontarem objetos para Washington.

Ele nega, contudo, tratar-se de um lançador de mísseis, preferindo apenas metaforizar a postura de confronto assumida por Chávez em relação aos primos do norte e ao presidente Bush.

— Não, uma arma não. É um movimento. Um vetor. A arquitetura tem sempre que surpreender, criar curiosidade, senão não adianta. Ainda mais quando se trata de exprimir a coisa toda do Chávez, que é revolucionária, de mudança de ventos, audaciosa, corajosa.

O projeto, que prevê, ao pé da estrutura cercada por um espelho d’água, um museu dedicado a Bolívar, já foi enviado para o presidente venezuelano no fim de semana passado.

Agora, resta a el comandante dar a palavra final e a ordem de execução. Da obra, esclareça-se...

Matéria de Arnaldo Bloch e Chico Otávio publicada no jornal O Globo em 31 de janeiro de 2007


‘Formas e dimensões puras e simples’
Oscar Niemeyer



Lembrava-me de um comentário feito pelo presidente Chávez, quando da sua visita a minha residência, sobre um monumento a Bolívar, e, no dia seguinte, não sei por que, me surgiu a idéia de realizá-lo.

Sabia que um monumento a Bolívar tinha que ter plasticamente a grandeza dessa figura de revolucionário tão querida na Venezuela e nos demais países da América Latina. E a idéia que me ocorria de um extenso triângulo apontando para o exterior me entusiasmava. E o desenhei com 100 metros de altura e 170 metros de extensão.

Para alguns era uma forma um pouco agressiva; para mim justificava o momento político que vivemos na América Latina, com a Venezuela a liderar esse movimento de resistência às agressões de Bush. Mas a forma e as dimensões adotadas são tão puras e simples de realizar que acredito que nenhum problema especial possam oferecer.

O monumento projetado para Simón Bolívar reflete como eram indispensáveis a audácia e a coragem desse grande líder da América Latina.

Jornal O Globo, 31 de janeiro de 2007

Niemeyer 3














Obras de um mestre da arquitetura no Paço
Exposição ‘Oscar Niemeyer 10100’ comemora o ano do centenário do arquiteto com projetos da última década


Centenário e produtivo: Oscar Niemeyer é o homenageado da exposição “10100”, que abre ao público hoje, no Paço Imperial. A mostra é centrada na produção do arquiteto nos últimos dez anos, que inclui o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, de 1996; o Caminho Niemeyer, também em Niterói, de 1997; o Serpentine Pavilion, em Londres, de 2003; o Teatro do Parque Ibirapuera, em São Paulo, de 1999; e o Museu de Brasília, de 2003.

Serão 80 desenhos originais, projeção de fotos de Marcel Gautherot de obras do arquiteto, filmes, projetos recentes, 17 maquetes, uma escultura de três metros, móveis e 16 vitrines com documentos originais, incluindo escritos de Niemeyer.

SERVIÇO: De 30 de janeiro a 29 de abril, no Paço Imperial, na Praça Quinze de Novembro 48. De terça a domingo, das 12h às 18h, com entrada franca. Tel: 2533-4407.


















O prédio da sede do Partido Comunista Francês em Paris: Projeto de Niemeyer

Acima, croqui da Estação de Charitas, parte do Caminho Niemeyer, em Niterói

Niemeyer 2












A essência de Niemeyer
Centrada nos projetos de seus últimos dez anos, exposição no Paço Imperial mostra que as curvas livres ainda são a marca do arquiteto



Ele é o homem que fez as obras-primas de Brasília e Pampulha. É também o homem cuja cor preferida é o vermelho, que gosta de Baudelaire, De Sica, Picasso e Villa-Lobos, que não acredita na sobrevivência da alma, que mantém Marx e Lênin como heróis. É ainda o homem que continua criando grandes obras de arquitetura, como o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, o pavilhão feito para a Serpentine Gallery, em Londres, o Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, o Museu de Brasília. E no momento projeta outras para Recife, Minas Gerais, Amazonas e Áviles, na Espanha. Aos 99 anos, a dez meses de completar 100, o arquiteto Oscar Niemeyer continua acumulando projetos. Em homenagem não só ao ano de seu centenário, mas de um centenário ativo, o Paço Imperial inaugura amanhã, para convidados, e na terça-feira, para o público, a exposição “Oscar Niemeyer 10/100”, centrada em sua produção dos últimos dez anos.

— Celebramos não apenas o fato de Niemeyer fazer 100 anos, mas de fazer 100 anos completamente ativo, criando — diz Lauro Cavalcanti, diretor do Paço e curador da mostra. — Seu reconhecimento internacional, sobretudo entre os jovens, está no auge. Ele percebeu a limitação de a forma servir à função. A forma também é uma função, e a da arquitetura é emocionar as pessoas, sair do cotidiano massacrante. Depois do esgotamento do modernismo racionalista e do pós-modernismo, os jovens hoje voltam ao modernismo doce, como o do Niemeyer.

Como parte do projeto Atelier Finep, que mostra o processo de criação de artistas, a exposição reúne, além de 17 maquetes, fotografias e 80 desenhos, enfocando o desenvolvimento dos projetos. Nunca tantos originais saíram da Fundação Oscar Niemeyer, que organizou a mostra ao lado de Cavalcanti, que é arquiteto, amigo de Niemeyer e autor do livro “Moderno e brasileiro”, lançado no ano passado. Entre os desenhos livres, estão os de corpos femininos, que sempre lhe inspiraram as curvas e desenhos de projetos políticos, como o do Memorial 9 de Novembro, em Volta Redonda. Há ainda uma sala de fotografias de Marcel Gautherot, da construção da Pampulha e de Brasília. A mostra traz ainda duas esculturas de Niemeyer, que terá outra delas inaugurada na próxima terça-feira, nos jardins de Bercy, em Paris.

Integração entre artes plásticas e arquitetura

— Gosto de criar esculturas, como a que desenhei para Paris. Sempre me manifestei favoravelmente à integração entre a arquitetura e as artes plásticas — afirma Niemeyer, por e-mail. — Quando projetei a Igreja da Pampulha, previ uma fachada toda de azulejos e chamei o Portinari para fazer a pintura. Agora estamos concluindo o teatro do Caminho Niemeyer, em Niterói. Eu previa a fachada com grandes desenhos, como na Igreja da Pampulha; no entanto, a verba era curta e não foi possível contratar um pintor para realizar os desenhos. E resolvi eu mesmo elaborá-los. São mulheres dançando, enormes, como eu desejava. Entusiasmado com o que fazia, fiz outro grande mural no interior do teatro, um croqui que eu tinha desenhado com 60cm e ampliei para 40m.

A arquitetura de Niemeyer mantém sua essência lúdica, de curvas, permitidas pelas possibilidades do concreto armado. Uma inovação foi o pavilhão temporário criado em 2003 para a Serpentine Gallery, em que uma estrutura metálica foi usada, segundo Niemeyer, por exigência dos ingleses, numa “nova e interessante experiência”. O prédio é um dos cinco feitos nos dez últimos anos em destaque na exposição. Ele está ao lado do Auditório do Ibirapuera, espaço para 850 pessoas previsto no projeto original do parque, de 1951, mas só inaugurado em 2005; do ousado Museu de Brasília, inaugurado em 2006; e, em Niterói, do MAC e do Caminho Niemeyer — sem data para ficar pronto, incluindo, entre outros, teatro, praça, museu, catedral, templo evangélico e a futura sede da Fundação Niemeyer.

— Oscar mantém uma essência que quase todo grande autor mantém, mas realiza coisas que concebeu mas não podiam ser executadas, como o vão da cúpula do Museu de Brasília, de 80 metros — afirma Cavalcanti. — Ele tem grande senso de intervenção urbana. No Ibirapuera, unifica prédios isolados pela marquise, num passeio permitido pela arquitetura. Ele consegue implantar o MAC sem tirar um pedaço da paisagem. A curva do museu é totalmente paralela à do Pão de Açúcar, e a água em volta do MAC ecoa a Baía de Guanabara.

Em duas telas, são exibidos, em imagens em computador, 40 projetos recentes, sempre desenvolvidos com o arquiteto Jair Varela e o engenheiro José Carlos Sussekind. Entre obras mais antigas, estão maquetes da Editora Mondadori, em Milão, um desafio de sustentação de colunas (“Para ele, arquitetura e estrutura são indissociáveis, diz Cavalcanti”); e do ousado Centro Cultural de Le Havre, na França: “Reconheço, sem falsa modéstia, que não me faltou coragem para desenhar as cúpulas do Congresso Nacional, que espantaram até a Le Corbusier, a nos afirmar: ‘Aqui há invenção.’ E pelos mesmos motivos agrada-me lembrar a praça do Havre que projetei na França, eu a dizer ao seu prefeito diante do terreno escolhido: ‘Gostaria de rebaixar o piso desta praça quatro metros.’ Recordo que ele me olhou surpreso, mas eu falava com tanta convicção que a praça foi rebaixada como pedi”, escreve ele em “Conversa de arquiteto”, reproduzido na mostra. No mesmo texto, ele mostra não querer olhar para o passado, ao falar sobre a necessidade de se construir a partir da tecnologia do presente, dando razão à afirmação de Alvar Aalto de que não existe arquitetura antiga e moderna.

— Quando o tema é importante, vale a pena utilizarmos a técnica em toda a sua plenitude — diz Niemeyer. — O que muda é a técnica, e os programas apresentados. Meus projetos têm por princípio reduzir apoios, procurar a forma diferente. É a arquitetura mais livre e audaciosa que prefiro.















Pavilhão para a Serpentine Gallery, em Londres, em que usa estrutura metálica

Acima, maquete do Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Matéria de Suzana Velasco publicada no jornal O Globo do dia 28 de janeiro de 2007



‘Mais radical do que a nova geração’
Para o arquiteto Farès el-Dahdah, novos arquitetos usam a curva como norma


A arquitetura livre e audaciosa faz com que Niemeyer exerça o tal fascínio sobre os jovens, de que fala Cavalcanti, e por muitos seja considerado mais de vanguarda do que grande parte da nova geração, como considera o arquiteto Farès el-Dahdah, que cresceu em Brasília e tem publicada a tese “Apologia a Brasília”. Hoje professor na Universidade de Rice, em Houston, ele está escrevendo um dos texto para o catálogo da exposição, que será lançado em março.

— É no uso das curvas que Niemeyer prova ser mais radical do que a nova geração de arquitetos. Para ele, a curva foi concebida em direta oposição às construções ortogonais, assim como ao que estava se tornando norma na arquitetura moderna — diz el-Dahdah, que já fez projetos em colaboração com a Casa de Lúcio Costa e organiza, para a Fundação Niemeyer, os arquivos do arquiteto, com financiamento da Fundação Getty. — A curva de Niemeyer é o seu modo de criticar a norma e é a ferramenta com a qual ele sempre busca alternativas. Isso infelizmente não se aplica à mais nova geração de arquitetos, para quem a curva é a norma e a conseqüência natural de um relacionamento fluido entre design e fabricação.

Mostra também destaca Pampulha e Brasília

E a curva, “livre e sensual”, como diz seu “Poema da curva”, está lá, desde o Complexo da Pampulha, seu primeiro projeto nos moldes sinuosos e que, de tão inovador, fez com que o arcebispo de Belo Horizonte se recusasse a consagrar sua igreja. A mostra reúne um desenho e uma maquete de Pampulha, além de uma escultura inspirada em suas formas, dos anos 2000. Outros destaques entre os clássicos são maquetes dos edifícios de Brasília e um desenho em homenagem a Lúcio Costa; a Universidade de Constantine, na Argélia; e a sede do Partido Comunista da França, que o governo francês estuda classificar como patrimônio nacional.



Atelier FINEP mostra processo criativo
Paço tem projeto desde 1994

Desde 1994, o Atelier Finep revela os métodos de pesquisa e criação de artistas, no Paço Imperial, em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos, a Finep. Pelo projeto já passaram nomes como Anna Bella Geiger, Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Eduardo Sued, Beatriz Milhazes, Tunga, Lygia Pape, Ivens Machado e Franz Weissmann. Agora, o Atelier Finep mostra as etapas de criação do arquiteto Oscar Niemeyer.

— Existe um mito de que Niemeyer faz um risco e o projeto está pronto. Mostramos a mudança de soluções que ele dá a cada obra, como o pavilhão da Serpentine Gallery — afirma Lauro Cavalcanti.


Jornal O Globo, 28 de janeiro de 2007