13 janeiro 2010
23 novembro 2009
Raúl mantem ativa repressão em Cuba
Human Rights Watch denuncia que pelo menos 40 dissidentes se tornaram presos políticos e pede maior pressão internacional
Gilberto Scofield Jr.
Amáquina repressora de direitos humanos e dissidentes políticos em Cuba continua ativa, apesar da saída do poder de Fidel Castro e das expectativas de mudanças políticas e econômicas depositadas no comando de seu irmão, Raúl, que o substituiu a partir de julho de 2006. Relatório da ONG de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) sobre o estado dos prisioneiros políticos no regime de Raúl — intitulado “Novo Castro, mesma Cuba” — mostra que ao menos 40 pessoas foram presas nestes anos durante o novo governo, o que eleva as estimativas mais conservadoras sobre presos políticos na ilha para cerca de 250 pessoas.
Mas o número pode ser muito maior, diz Nik Steinberg, um dos pesquisadores da HRW que passou duas semanas realizando entrevistas (às escondidas) com 60 pessoas em sete das 14 províncias e liderando um grupo de investigação que trabalhou um ano dentro e fora de Cuba. Afinal, o instrumento de coerção mais utilizado no governo de Raúl Castro se chama “periculosidade”, um artigo do Código Criminal que permite ao Estado prender pessoas antes que tenham cometido qualquer crime, baseado na suposição de que possam “cometer ofensa no futuro”.
— Sob este instrumento são presos os dissidentes e ativistas, mas também qualquer um que reclame da situação econômica ou da falta de salários decentes. Isto cria uma atmosfera de medo constante entre os cubanos de que suas palavras possam ser usadas contra si próprios ou sua família caso reclamem do governo. E pode triplicar a quantidade de dissidentes presos — diz Steinberg.
— Em três anos no poder, Raúl Castro tem sido tão brutal quanto seu irmão — afirmou José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da HRW. — As armas mais comuns de Raúl são a detenção pura e simples, mas há outras formas de coerção, como espancamentos, como ocorrido recentemente com a blogueira Yoani Sánchez, ou negação de trabalho.
Ao contrário da impressão que se tem de que a internet ajudou a dar voz aos cubanos, a imensa maioria continua sem acesso à rede.
— O acesso à rede custa US$5 por 15 minutos, e isso equivale a um terço do salário mínimo do país — diz Steinberg. — Além disso, a rede é censurada e muitos blogueiros não conseguem ver seus próprios blogs ou aprovar comentários de leitores, ou respondê-los.
Marcha por liberdade termina na prisão
Durante a gestão de Raúl, a HRW cita vários casos entre as 40 prisões políticas que tiveram mais repercussão entre os cubanos. Um deles é o de Ramón Velásquez Toranzo, que em dezembro de 2006 decidiu empreender uma marcha com a mulher e a filha de 18 anos por toda a ilha pedindo respeito aos direitos humanos e liberdade para presos políticos. Em poucos dias, foram cercados por um grupo, acusados de serem “mercenários dos EUA” e ameaçados de morte, sob as vistas da polícia. Em janeiro de 2007, Toranzo foi preso em Camaguey, julgado em três horas e sentenciado a três anos de prisão.
Em março de 2003, o governo de Fidel Castro prendeu 75 dissidentes pelo país — gente que pedia um referendo sobre abertura democrática na ilha, uma iniciativa conhecida como Projeto Varela. Destes, 53 continuam presos.
— O embargo dos EUA tem quase 50 anos e demonstrou não ter surtido efeito. A sugestão da União Europeia de abordagem negociada passo a passo também não surte efeito porque o governo não está interessado em abrir mão do poder. Nossa proposta é reunir países em Europa, Ásia e Américas para exercer pressão com a única exigência de libertar os presos políticos. Isto pode ajudar a acelerar reformas — diz Vivanco.
Pode ser, mas o fato é que nunca a ideia de trazer Cuba de volta à comunidade internacional teve tanta força como hoje. O fim da resolução que impedia o país de se juntar à Organização dos Estados Americanos (OEA) foi acertada este ano com o apoio dos EUA. O próprio Vivanco admite que o embargo americano provoca a simpatia de muitos pela ilha, apesar do regime autoritário. Em outubro, na ONU, o fim do embargo foi aprovado por todos os membros, com exceção de EUA, Israel e Palau, um arquipélago-Estado no Pacífico. E o próprio governo Barack Obama decidiu acabar com algumas restrições nas viagens de cubanos-americanos à ilha e remessas para Havana. Estas decisões são aplaudidas pela HRW porque ajudam a melhorar o nível de vida dos cubanos, mas nada fazem para melhorar a situação dos direitos humanos na ilha.
Milhões para legisladores manterem o embargo
Juan-José Fernández
Miami. Quase 400 legisladores e candidatos americanos receberam US$11 milhões desde 2004 de doadores partidários de manter o embargo a Cuba, segundo o grupo independente Public Campaign, que defende o financiamento público de campanhas políticas. Abrem a lista três congressistas republicanos da Flórida, assim como o candidato republicano à Presidência em 2008, John McCain. Também é significativo que as doações a democratas, quase US$1 milhão, tenham aumentado 50% nos últimos quatro anos. Recentemente, esses financiadores enviaram uma carta à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, opondo-se a mudanças na política ao país.
Exilados cubanos criticaram o relatório da Public Campaign e recordaram a falta de liberdade no país. Agricultores e pecuaristas americanos vendem à ilha, “por razões humanitárias”, US$1 bilhão por ano em animais e vegetais. A Guerra Fria acabou, mas os negócios esquentaram. Lincoln Diaz-Balart, diz o relatório, recebeu US$367 mil; o irmão Mario, US$364 mil, e Ileana Ross-Lehtinen, US$240 mil. McCain recebeu US$183 mil, e o senador democrata Bob Menendez, US$166 mil. Os maiores beneficiários seguintes, à exceção do independente Joe Lieberman, são democratas.
De caçada a caçadora
Blogueira cubana fotografa agentes que vigiam seus passos
Angela Góes
Vítima de um sequestro-relâmpago promovido por agentes de segurança do governo cubano há duas semanas, em Havana, a blogueira Yoani Sánchez, de 34 anos, ouviu de seus agressores que fora “longe demais” nas críticas ao regime comunista. Estavam enganados. Cansada do papel de protagonista do que define como “um filme de terror”, a autora do blog “Generación Y” (http://www.desdecuba.com/generaciony/) decidiu dar rosto às pessoas que a vigiam e perseguem diariamente.
Com a ousadia que lhe é peculiar — e que já a levou a ser acusada de inimiga do Estado pela imprensa oficial — Yoani começou a fotografar os homens e mulheres que acompanham a sua rotina à distância, que batem ponto na porta da sua casa e que, muitas vezes, a seguem onde quer que vá. E ainda publicou o resultado do seu novo hobby no blog.
“Minha relação com o cinema sempre foi nas poltronas, na penumbra de uma sala. Até que comecei a viver meu próprio filme, uma espécie de thriller de perseguidores e perseguidos, onde cabe a mim escapar e me esconder (...) Agora, para me defender, comecei a fazer testemunhos desses seres das sombras que, como vampiros, alimentam-se de nossa humana alegria, nos inoculam o temor através da pancada, da ameaça e da chantagem. Indivíduos treinados na coação”, explica a blogueira.
Com um celular em punho, ela registrou a surpresa dos seus algozes ao serem flagrados.
“Acostumados a juntar provas para os processos que todos temos em alguma gaveta, em algum escritório, agora surpreendem-se que nós façamos o inventário dos seus gestos, dos seus olhos, a meticulosa relação dos seus atropelos”, ironiza.
Uma das fotos mostra uma agente do governo tapando o rosto. Em outra, a blogueira capta a total incredulidade do "caçador que virou caça".
— Está louca? — pergunta um deles ao ser fotografado.
Mas Yoani, ao que parece, sabe o que faz. E não tem medo. Mesmo após as agressões sofridas no dia 5.
“Recuperei minha condição de bípede, larguei a muleta”, conta ela, que foi puxada pelos cabelos e chutada pelos agentes do governo que a sequestraram. “Estou de volta.”
Yoani já ganhou vários prêmios internacionais pelo seu trabalho no blog, mas é pouco conhecida em Cuba devido às restrições à internet.
Publicado no jornal O Globo em 19 de novembro de 2009
22 novembro 2009
Depois do longo tratamento de quimioterapia, o campeão é liberado para voltar às pistas
Marco Aurélio Ribeiro
Em julho deste ano, o mundo do turfe foi pego de surpresa com notícia da doença do campeão Jorge Ricardo. Em Buenos Aires, o piloto anunciou que ficaria afastado de quatro a cinco meses para tratar de um câncer linfático, diagnosticado já há algum tempo e que parecia ter ser agravado.
Há mais de dois anos radicado no turfe argentino, o campeão, que por 24 anos consecutivos venceu a estatística na Gávea, afirmou, a época, que este seria o páreo mais difícil de sua vida, mas que lutaria com todas as forças em busca de voltar a fazer o que mais gosta na vida: montar cavalos de corrida.
Ricardinho começou o tratamento de quimioterapia em Buenos Aires, mas decidiu vir ao Rio, onde tem dois filhos, e seguir com o procedimento, sempre acompanhado de especialistas, que desde o início afirmaram que os gânglios seriam perfeitamente tratáveis.A força de vontade do campeão foi fundamental.
Na última semana, Jorge Ricardo foi submetido a uma tomografia e recebeu a melhor notícia de sua vida. A doença regrediu e o piloto poderá voltar a exercitar cavalos de corrida em 15 dias.Com poucos cabelos (em razão da quimioterapia), mas com peso bom — está com 56,5 quilos — Ricardo comemorou o resultado:
— Quero voltar a fazer o que mais gosto na vida. O médico disse que posso voltar a fazer tudo o que fazia antes.
Durante os próximos dois anos, o piloto terá acompanhamento médico, para manter o linfoma estacionado.
Publicado no jornal O Globo em 17 de novembro de 2009
Mais de 500 mil, muitas delas enviadas pelo Reino Unido, sofreram abusos em orfanatos
CANBERRA. O governo da Austrália pediu perdão ontem a centenas de milhares de pessoas que, quando crianças, sofreram abusos emocionais, físicos e sexuais em orfanatos do país durante o século XX. O pedido de desculpas, feito conjuntamente pelo premier, Kevin Rudd, e pelo líder da oposição, Malcolm Turnbull, foi realizado diante de centenas de idosos que padeceram nestes orfanatos públicos.— Sentimos muito. Sentimos que, quando crianças, vocês tenham sido tirados de suas famílias e levados para instituições nas quais, muitas vezes, sofreram abusos — disse Rudd.
— Sentimos pelo sofrimento físico, a inanição emocional e a fria ausência de amor, carinho e cuidado.Sentimos pela tragédia absoluta de infâncias perdidas.
As autoridades se referiram a dois episódios negros do passado do país. Rudd relembrou os “australianos esquecidos”.Segundo uma comissão de investigação do Senado terminada em 2004, cerca de 500 mil crianças, órfãs ou abandonadas pelos pais, foram tratadas com extrema violência durante o século passado.
O segundo episódio mancha a história não somente da Austrália, mas principalmente a do Reino Unido. Entre 1618 e 1967, Londres enviou para suas colônias um número calculado em 150 mil crianças.
Desde 1920, a maioria foi enviada para a Austrália, e este número aumentou depois da Segunda Guerra Mundial.
— Não há outro país do mundo que tenha deportado suas crianças para o outro lado do mundo, e as abandonado — disse John Hennessey, de 72 anos, que tinha 10 anos quando foi enviado. — Eles roubaram a nossa inocência.
Publicado no jornal O Globo em 17 de novembro de 2009
Foi mal, Obama ...
Polêmica do outro lado do mundo
Americanos criticam reverência feita pelo presidente a imperador japonês
WASHINGTON. Imagens do presidente Barack Obama fazendo uma profunda reverência enquanto aperta a mão do imperador japonês, Akihito, em sua primeira escala na viagem à Ásia provocou uma furiosa repercussão no Congresso, na mídia e na internet dos Estados Unidos. Para os críticos, “nenhum presidente americano deve se dobrar para líder de país algum”. A imagem, reprisada desde o fim de semana nas TVs e replicada em blogs na internet, conseguiu eclipsar a viagem em si, especialmente num momento mais importante em que Obama se encontra com os líderes chineses.
A imagem vem acompanhada de críticas amargas dos que acham que Obama vem passando uma imagem de fraqueza dos EUA no exterior ao tratar com reverência a realeza, conversar com inimigos (como quando apertou a mão de Hugo Chávez na Cúpula das Américas) ou pedir desculpas por erros do governo anterior. Os disparos vieram tanto da conservadora Fox quanto da mais equilibrada CNN.
— Não reverenciamos reis ou imperadores.
O fato de os EUA estarem por aí pedindo desculpas é feio e eu nem quero ver — afirmou o comentarista conservador Bill Bennett no programa “State of the Union”, da CNN.
O reitor da Escola de Graduação em Gerência Política da Universidade George Washington, Christopher Arterton, considera a reação um exagero, mas entende que muitos tenham se sentido ofendidos. Afinal, familiares de soldados americanos que morreram lutando contra os japoneses na Segunda Guerra Mundial não se sentem à vontade com a imagem da reverência.
Além disso, o gesto remete a um fato histórico que dá a dimensão do quanto o ato de reverência é desprezado no país.
— Um dia perguntaram ao presidente George Washington se ele achava que a etiqueta do governo deveria incluir uma reverência dos cidadãos em encontros com o presidente. Ele respondeu que não havia reis na América e que ele era apenas um primeiro cidadão — disse.
O Departamento de Estado afirmou que o presidente estava apenas seguindo o protocolo, enquanto políticos democráticos consideraram a reverência “um gesto de cortesia”.
(Gilberto Scofield Jr.)
Publicado no jornal O Globo em 17 de novembro de 2009
Enviadas a ex-colônias britânicas, elas sofreram maus-tratos
LONDRES. O governo britânico anunciou ontem que pedirá desculpas por enviar milhares de crianças pobres, algumas vezes sem o conhecimento dos pais, para ex-colônias. Sob o programa “Crianças imigrantes”, uma política que terminou há 40 anos, muitos menores pobres foram enviados a países da Comunidade Britânica, especialmente Austrália e Canadá, com a promessa de uma vida melhor.
Mas, segundo a organização de caridade Child Migrants Trust, muitas das sete mil crianças enviadas à Austrália sofreram abusos, acabaram internadas em instituições ou foram obrigadas a trabalhar em lavouras.
Durante a política de assentamento, desenvolvida de 1930 a 1970, muitos pais receberam a falsa informação de que seus filhos haviam morrido.
Segundo uma comissão parlamentar que investigou o caso, o primeiro-ministro Gordon Brown confirmou por escrito que o governo pedirá desculpas em 2010. “É importante que escutemos as vozes dos sobreviventes e das vítimas dessas políticas equivocadas”, diz trecho da carta reproduzido.
O premier australiano, Kevin Rudd, deve hoje mesmo pedir desculpas pelos maus-tratos aos envolvidos no projeto.
Publicado no jornal O Globo em 16 de novembro de 2009
12 março 2009
Blog "Notícias da Américas"
Soy loca por ti, America
Poucos são os latinos sucintos. Yo tampoco sou sucinta. Tentarei, porém, ser breve neste primeiro post, mas não garanto. Uma pequena história: em 2003, arrumei as malas para conhecer o México de mochila. Dez entre dez pessoas me perguntavam: mas por que o México? Por que não a Europa? Se hoje escrevo um blog sobre a América Latina e suas latinidades, não é preciso nem dizer o quanto esta viagem teve impacto na minha vida. De qualquer forma, o que quis ilustrar aqui é que essa surpresa das pessoas já era um sinal claro de que, para muitos de nós, brasileiros, boa parte da América Latina está bem mais longe, por exemplo, que a Europa.
De fato, por sermos um país continental e o único a falar português por essas bandas, acabamos, por muito tempo, distanciando-nos dos vizinhos, dos parentes. Porém, mesmo que o mundo tenha se globalizado, não tem jeito: proximidade geográfica, heranças históricas são, sim, fatores fundamentais. E isso compartilhamos com eles. Assim, este pedaço do mundo, que me é tão querido, que vai da Argentina ao México, onde hoje vivem por volta de 600 milhões de habitantes, das mais variadas origens étnicas, será o tema deste nosso blog.
Diariamente, vou tentar separar notícias interessantes desses países, fazer alguns comentários e, semanalmente, trazer uma entrevista ou algum texto, estudo a respeito. Certamente, desde balança comercial até literatura, passando por políticas de segurança, assunto é o que não falta. Leitores, estudiosos, moradores daqui e de acolá são bem vindos no e-mail noticiasdasamericas@gmail.com para mandar ideias, estudos, textos. E os comentários estão aqui para isso também.
Sejam bem-vindos!
PS.: Navegando aqui no Wikipedia, achei uma longa explanação do verbete "América Latina". Para quem gosta de saberes enciclopédicos e curiosidades, sugiro. A em português não estava muito boa. Gostei mais da em espanhol, e a em inglês também está bacana.
http://oglobo.globo.com/economia/miriam/debora/
03 março 2009
Cuba: um ano de Raúl como Presidente
Reforma muda 10 ministros, funde 4 pastas e demite homens ligados ao ex-líder
O presidente de Cuba, Raúl Castro, anunciou ontem uma profunda reforma em seu governo, afastando figuras proeminentes ligadas ao irmão, Fidel, substituindo-as por outras mais ligadas a ele, que acaba de completar um ano no cargo. Na maior reestruturação em décadas, tirou algumas das figuras mais destacadas do governo cubano, como o chanceler Felipe Pérez Roque e o vice-presidente Carlos Lage, que deixará a Secretaria do Conselho de Ministros.
Pérez Roque foi secretário pessoal de Fidel e ocupou a Chancelaria por quase uma década. Aos 43 anos, era um dos integrantes mais jovens da cúpula cubana e chegou a ser considerado uma alternativa futura para o governo do país. Segundo a nota oficial, concordou-se “em liberar o companheiro Pérez Roque e promover o viceministro Bruno Rodríguez Parrilla”, que foi embaixador de Cuba na ONU.
— Pérez Roque é alguém muito próximo a Fidel, construiu sua carreira trabalhando diretamente para ele — contou Phil Peters, especialista em Cuba do Lexington Institute, em Washington, dizendo ser cedo para saber como as mudanças afetarão as relações com o novo governo americano.
Já Lage, de 53 anos, aparentemente mantém o cargo de vice-presidente, mas seus poderes foram reduzidos.
Lage foi o arquiteto das modestas reformas econômicas da década de 90, que permitiram ao país sobreviver ao fim da União Soviética. Ele será substituído como secretário-executivo do Conselho de Ministros pelo general José Amado Ricardo Guerra, chefe da secretaria do ministro das Forças Armadas. Guerra temocupado altos postos no setor militar, que há décadas é comandado por Raúl.
A reforma vem dias depois de Raúl completar um ano como presidente, no último dia 24, período durante o qual os cubanos viram algumas mudanças, como a redistribuição de terras e maior acesso a aparelhos eletrodomésticos, mas também o agravamento da crise econômica, depois de o país ser castigado por três furacões, que causaram sete mortes e prejuízos de US$ 10 bilhões.
Mudança atrasada por furacões
Um comunicado do Conselho de Estado, lido na TV, explicou que a reforma condizia com o anúncio feito por Raúl, ao ser confirmado no cargo, sobre a necessidade de reduzir e reestruturar o governo. Segundo a nota, outras mudanças virão.
A reforma implica a mudança de dez ministros e a fusão de quatro pastas em novos ministérios, assim como a saída do governo de um dos 12 vicepresidentes do Conselho de Ministros, Otto Rivero — encarregado da “Batalha de ideias”, estratégia lançada por Fidel para recuperar valores da revolução. O vice-presidentede Governo Ramiro Valdés Menéndez ficará encarregado de sua coordenação.
— Raúl está simplificando o governo e colocando algumas pessoas suas, inclusive alguns militares, em posições-chave — disse Peters.
O ministro da Economia, José Luis Rodríguez, também vice-presidente do Conselho de Ministros, perdeu os dois cargos para Marino Murillo Jorge, titular do Comércio Interior. Foram fundidos Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro, postos sob o comando de Rodrigo Malmierca; e os de Indústria Alimentícia e Indústria Pesqueira, a cargo de María Concepción González, ex-integrante do Secretariado do Partido. Também sofreram mudanças os ministérios de Ciência e Meio Ambiente; Finanças e Preços; Trabalho; e Indústria.
No dia 20 passado, Raúl Castro havia feito a quarta reestruturação em seu Gabinete, promovendo três importantes membros do governo a vicepresidentes do Conselho de Ministros. Os ministros Ramiro Valdés, de Telecomunicações eInformática; Ulises Rosales del Toro, da Agricultura; e Jorge Luis Sierra,dos Transportes, mantiveram suas pastas e acumularam funções de outros organismos.
O primeiro aniversário do governo de Raúl foi marcado por frustração. As mudanças foram atrasadas, segundo ele, devido aos furacões que atingiram o país. Foram 500 mil casas destruídas ou avariadas, milhares de toneladas de alimentos perdidas num país que importa 80% do que consome, e linhas de energia interrompidas.
Por outro lado, Raúl — que assumira interinamente o cargo após uma misteriosa doença intestinal de Fidel, em 2006 — conseguiu algum êxito internacional.Retomou as relações com a União Europeia, ressuscitou a velha aliança com a Rússia, mantém fortes vínculos com Venezuela e China e ganhou apoio da América Latina, sendo admitido no Grupo do Rio. Com as mudanças, Raúl parece quererimprimir sua marca no governo herdado do irmão, que desde 2006 não aparece em público.
Mudanças em 1 ano no poder
Desde que foi confirmado no cargo, em 24 de fevereiro de 2008, o presidente Raúl Castro fez uma série de mudanças, que foram da redistribuição de terras à autorização do uso de celulares — algumas delas definidas pelo então governo Bush como “cosméticas”.
AGRICULTURA: Foi descentralizada para permitir a produtores privados maior liberdade para decidir como usar a terra ou o que plantar, além de permitir a compra direta de ferramentas e insumos. Foram criadas delegações municipais para repartir terras ociosas, com a missão de fazer o campo produzir.
SAÚDE: Foi reduzida a burocracia para venda de remédios prescritos e foi reestruturado o programa Médico de Família, devido à falta de profissionais.
SALÁRIOS: Foi eliminado o teto salarial para criar incentivos aos trabalhadores.
CELULAR: Caiu a proibição para a compra de celulares. Antes, só eram permitidos a funcionários do governo e empresas estrangeiras.
HOTÉIS: Cubanos passaram a poder se hospedar em hotéis antes reservados apenas a estrangeiros.
ELETRODOMÉSTICOS: Caiu a proibição sobre a compra de produtos como computadores, aparelhos de DVD, forno de micro-ondas e outros artigos antes proibidos devido à crise de energia.
MORADIA: Cubanos que vivem em imóveis do governo podem agora obter o título de propriedade, mantendo-se na moradia mesmo após deixar o cargo ao qual a residência está vinculada.
PENA DE MORTE: O governo anunciou uma moratória, estudando a comutação das sentenças para prisão perpétua ou 30 anos de reclusão. A pena, no entanto, não foi extinta. Cerca de 30 prisioneiros seriam beneficiados, mas ela seria mantida para outros três.
Publicado no jornal O Globo em 03 de março de 2009, página 27
16 maio 2008
Crueldade
AGENTE INFILTRADO ENTRE MENDIGOS SOLUCIONA CRIME
Com ação, polícia captura três assassinos de morador de rua
Um jardim de sensações
UM JARDIM DE SENSAÇÕES
Espaço para deficientes visuais pode ser visitado também por quem quiser percorrer os canteiros com vendas nos olhos
Tradução de Machado de Assis para o português
18 março 2008
Pedofilia
Abuso Sexual
Polícia Civil prende homem acusado de pedofilia em Vila Isabel
RIO - Policiais da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) realizaram na manhã desta terça-feira uma operação para prender um homem acusado de abusar sexualmente de crianças na área da Tijuca, Grajaú e Vila Isabel. Pedro Roberto Alves Bezerra, de 52 anos, foi preso em casa, em Vila Isabel, depois de ter sido reconhecido por uma menina de 11 anos que ele teria seqüestrado e molestado em novembro do ano passado.
De acordo com o delegado-titular da DPCA, Deoclécio Assis Filho, o comerciante abordava as vítimas nas portas das escolas dizendo ser pai de uma aluna. Ele pedia ajuda da criança para achar sua suposta filha, e aproveitava para levar a vítima para um estacionamento, onde praticava o abuso sexual. Para não ser identificado, ele dava dinheiro às crianças para que elas não contassem nada aos pais.
O último caso de abuso teria acontecido justamento em novembro, quando a menina de 11 anos que reconheceu Pedro, foi abordada. Quando chegou ao estacionamento ela teria começado a gritar e o pedófilo fugiu. Há 15 dias, quando passeava no shopping a menina reconheceu Pedro, que chegou a ser abordado pela mãe da criança, mas conseguiu fugir.
A mulher, no entanto, anotou a placa do carro dele e fez a denúncia na DPCA, para onde Pedro Roberto foi levado. Ele será transferido para a Polinter. Ele é comerciante, casado e tem três filhos: uma criança com nove meses, uma com dois anos e uma de cinco.
O delegado da DPCA acredita que o pedófilo possa ter feito outras vítimas, e aguarda novas denúncias. O acusado vai responder por seqüestro com fins libidinosos e atentado violento ao pudor. Contra ele já havia um mandado de prisão expedido pela Justiça.
Segundo o delegado da DPCA, os pais alertar as escolas sobre casos de abusos sexuais.
Publicada em 18/03/2008 às 12h36mAndré Teixeira - O Globo, O Globo Online, Extra e CBN
Fonte: Globo Online
Pedofilia
Um ato de coragem
Mãe de vítimas ajuda na prisão de acusado de pedofilia no DF
BRASÍLIA - A polícia do Distrito Federal prendeu na noite de segunda-feira um homem acusado de pedofilia graças ao ato corajoso de uma mãe. Depois de prestar queixa à polícia e não obter resultado, com a ajuda de um vizinho ela bateu no homem denunciado e o imobilizou. Suas duas filhas foram vítimas do criminoso.
Cleiton Barroso da Silva está preso na Delegacia do Recanto das Emas. De acordo com a polícia, ele oferecia balas e moedas às crianças e em seguida as atraía para a loja de computadores onde ele morava e trabalhava.
- Se ele for condenado, pode pegar uma reclusão de seis a dez anos por cada vítima. Isso por uma vítima. Mas, pelas filmagens que temos, constatamos que foram várias. Temos que identificá-las e localizá-las. O quantitativo da pena será dado depois que o número de crianças for confirmado - afirmou o delegado Yury Fernandez.
A mãe, que não quis se identificar, disse que sua filha mais nova, de apenas cinco anos, chora o tempo todo e não quer mais ir para a escola.
- Ela não quer mais ir ao colégio e fica chorando o tempo todo. Ela também não quer mais brincar na rua. Ele passava até na rua em que a minha casa fica. Não temos paz. Eu quero que façam justiça - contou a mãe.
Cleiton Barroso da Silva já foi preso três vezes por atentado violento ao pudor, mas foi solto. Além disso, existem pelo menos outras seis ocorrências contra ele em várias delegacias do Distrito Federal pelo crime de pedofilia.
Outros casos
Este é o quarto caso de pedofilia registrado nas últimas duas semanas no Distrito Federal. No dia 7 de março, o corretor de seguros Gusmar Pires Lajes Júnior, 43 anos, foi preso enquanto usava um dos computadores da biblioteca do Ministério do Planejamento para enviar imagens de crianças sendo sexualmente violentadas. Segundo a polícia, ele acessava chats direcionados ao público infantil para tentar aliciar menores. Gusmar também arquivava imagens de crianças nuas, com idade de 8 a 15 anos.
Outra ocorrência foi registrada no dia 14 deste mês. O funcionário público aposentado Luiz Antônio de Faria, 56 anos, foi preso depois de uma denúncia anônima de exploração sexual. Na casa dele foram encontrados dois revólveres calibre 38 e um vasto material pornográfico. Foram achados cerca de 300 fitas, DVDs e três celulares com fotos e filmagens de menores.
Ele confessou que abusava sexualmente de crianças de 1 a 6 anos na casa onde morava, em Ceilândia. Luiz Antônio de Faria disse que cometia os crimes há dez anos. O acusado acrescentou que tudo era feito com o consentimento das mães e que pagava entre R$ 40 e R$ 100 para se aproveitar dos menores. Uma das mães confessou que o dinheiro era usado para comprar drogas. As mães responderão pelo crime de submeter os filhos a prostituição. Nesses casos, a pena chega a dez anos de cadeia. As crianças foram para a Vara da Infância e da Juventude.
O terceiro caso aconteceu no último sábado. Carlos Henrique Soares de Oliveira, 24 anos, foi preso em flagrante depois de agredir e abusar sexualmente de quatro menores, em Sobradinho. Ele oferecia presentes e depois ameaçava as crianças.
Publicada em 18/03/2008 às 09h24mDFTV
Fonte: Globo Online
18 janeiro 2008
Indignação - José Dirceu em Madri
Coluna de Ancelmo Gois, publicada no Jornal O Globo no dia 08 de janeiro de 2007
Glamour e Atitude!
Luciana Fróes
Só tem poderosa. A mostra “Be Cointreauversial — Um século de mulheres estilosas e emblemáticas”, uma adorável coletânea de cliques antológicos, organizada pela Cointreau e Getty Images de Londres, que depois de passar por Paris, Barcelona, Xangai e Tóquio aterrissa no Espaço Fashion do Shopping Center Iguatemi, em São Paulo, até dia 26. São 49 imagens de mulheres lindas (ou não) e famosas (ou não) que, acima de tudo, transbordam atitude (sempre!), dos anos 20 aos dias de hoje.
De Ava Gardner a Sarah Jessica Parker, estão todas lá. Ava, linda como sempre, aparece cochichando aos ouvidos de Paul Newman, em 1972; Elizabeth Taylor, de cigarrilha em punho e turbante árabe cobrindo os cabelos, em cena nos anos 50. Já Sophia Loren, foi fotografada em 1979, quando podia, e como!, posar de camisola decotada.
A modelo Twiggy, que virou de cabeça para baixo a estética de beleza nos anos 70, surge poderosíssima, no hall de um hotel londrino. A “Sex and the city” Sarah Jessica Parker, bem, ela não, mas seu par de Manolo Blahnik marcam presença. Lady Di lá está rindo, num clique ao lado de Liza Minnelli, num tempo em que era feliz.
Mas são as francesas, disparado, que roubam a cena. Brigitte Bardot linda, leve e solta, de minissaia e botinhas, em 66. Um show. Jane Birkin, então senhora Serge Gainsbourg, com seu visual atualíssimo, apesar da foto ter sido feita há 42 anos. A poderosa das poderosas é mesmo Françoise Hardy. Confiram o visual up-to-date da foto. Alguém acredita que foi feita há quase 40 anos?
Publicado no Jornal O Globo, Caderno Ela, em 21 de abril de 2007
http://www.becointreauversial.com.br/
http://www.taste.com.br/news/templates/noticia.asp?idNoticia=6532&secao=Estilo
11 dezembro 2007
Portinari
Prefeitura vai reformar a casa de Portinari
31 outubro 2007
Niemeyer 6
Niemeyer 360º
Casa das Canoas - RJ
Universidade de Constantine
Interior Catedral de Brasília
Partido Comunista Paris
Catedral de Brasília
30 outubro 2007
Hans Stern
Hans Stern, um nome que virou sinônimo de jóia
Natural de Essen, na Alemanha, Hans Stern nasceu cego e só começou a enxergar aos 2 anos de idade — e, mesmo assim, apenas com o olho direito. A deficiência, no entanto, nunca foi empecilho para seu sucesso num ramo que requer acuidade e perícia visuais. Seu gosto pelas pedras coloridas — numa época em que os joalheiros só se interessavam por pedras orientais, como rubis, safiras e esmeraldas — acabou transformando Hans num bem-sucedido homem de negócios. Ele emprestou seu nome e sobrenome para uma marca que, hoje, designa uma das cinco mais prestigiosas joalherias do mundo: a H. Stern.
A história de sucesso da H. Stern começou a ser escrita quando Hans tinha 17 anos: ele trabalhava na Cristab, uma empresa exportadora de minerais e pedras preciosas. Tendo fugido da Alemanha nazista, o jovem chegou aqui com míseros dez marcos no bolso. Em 1949, abriu a primeira loja da H.Stern, localizada na estação de desembarque dos navios, na Praça Mauá. O sucesso foi explosivo: a H. Stern se tornou uma das primeiras multinacionais brasileiras e, hoje, está presente nos principais endereços da moda internacional: Quinta Avenida, em Nova York; Neuer Hall, em Hamburgo; e 5 Höfe, em Munique.
Chamado pela revista americana “Time” de o “rei dos diamantes e gemas de cor”, Hans era um ilustre anônimo. Para manter esse “privilégio”, ele se negava a dar entrevistas e era avesso a fotos. Também não freqüentava os endereços da moda, andava sem seguranças e dirigia seu próprio carro: um Fusca. Seus luxos: coleções de selo e de turmalinas raras (esta, considerada uma das maiores do mundo).
São muitas as histórias que alimentam o mito Hans Stern, mas a que melhor traduz sua personalidade é a do publicitário Armando Strozenberg. O ano era 2002. Hans tinha sido indicado para o Prêmio Comunicação da Associação Brasileira de Propaganda (ABP). Sua indicação causou espanto, já que o prêmio só poderia ser dado a uma pessoa física. Strozenberg, autor da indicação, respondeu que o homenageado era Hans Stern e, para sua surpresa, ouviu de um dos membros da ABP: “Quer dizer que o H. Stern existe?”
Hans foi o responsável pelos primeiros desfiles de jóias no Brasil, lançou o relógio de pulso elétrico no país e abriu a primeira escola de ourives. Foi dele a idéia de lançar coleções assinadas por personalidades, como a atriz francesa Catherine Deneuve, e nomes nacionais, como os artistas plásticos Roberto Moriconi e Ana Bella Geiger, a jornalista e estilista Costanza Pascolato, o cantor e compositor Carlinhos Brown e os designers Humberto e Fernando Campana.
— Até a filantropia era exercida com discrição — lembra o rabino Nilton Bonder, que costumava encontrar Hans Stern caminhando anonimamente pelas ruas.
Discrição era, sem dúvida, a marca registrada desse empresário, que, apesar da idade avançada e de estar doente, cumpria uma rotina de trabalho espartana. Todos os dias, pontualmente às 8h30m, ele chegava à sede da empresa, em Ipanema. O único luxo da sua sala de trabalho era o aparelho de som, que passava o dia inteiro ligado. Hans era um amante da música clássica.
Como presidente do Conselho de Administração da H. Stern — uma rede com 160 lojas próprias espalhadas por 12 países — Hans acompanhava de perto a gestão dos seus dois principais executivos: Richard Barczinski e Victor Natenzon, respectivamente presidente e vice-presidente da empresa. Apesar de dois dos seus quatro filhos trabalharem na rede (Roberto e Ronaldo), a H. Stern sempre teve uma gestão profissionalizada. O grupo não tinha por prática divulgar seus balanços financeiros, mas estima-se algo em torno de R$400 milhões.
Hans, de 86 anos, morreu e foi sepultado ontem, no início da tarde, no Cemitério Comunal do Caju, no Rio de Janeiro. Ele vinha lutando contra um câncer de pele bastante agressivo. Oficialmente, Hans morreu devido a “causas naturais”. O enterro foi organizado às pressas, já que, pela tradição judaica, sábado é considerado um dia sagrado, o Shabat, e não pode haver sepultamentos. Além dos parentes, sua esposa, Ruth, seus quatro filhos (Roberto, Ricardo, Ronaldo e Rafael) e seis netos, poucos amigos e companheiros de trabalho compareceram à cerimônia. Os familiares cumpriram o desejo de Hans, que levou uma vida discreta e sem ostentação.
— Stern era franciscano. Ele era o nosso Mahatma Gandhi — lembra Ozias Wurman, ex-presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj) e amigo da família.
Publicado no jornal O Globo em 27 de outubro de 2007.
A discrição deste homem talentoso, empresário de sucesso, vitorioso em todos os sentidos é de uma grandeza ímpar principalmente em nossos tempos onde se faz de tudo por menos de cinco minutos de fama. Exemplos de vida como o de Hans Stern é que merecem ser seguidos e admirados. Registro minha admiração por este ser humano e meus respeitos aos seus familiares.
14 maio 2007
Que não tenham a coragem de dizer que isso é caridade ou justiça cristã
Família da vítima diz que advogado citou Bíblia para influenciar jurados evangélicos
Carlos Brito* e Fabio Gusmão*
Uma defesa baseada em preceitos evangélicos. Segundo a família da professora Lia Gomes da Silva, essa foi a estratégia usada pelo advogado Natã da Silva Rozeira para conseguir a absolvição, na 1ª Vara Criminal de Queimados, de Solange Reinaldo Viana, de 52 anos, ex-sogra da vítima. Ela é apontada, pela Polícia Civil e pelo Ministério Público, como mandante do assassinato da professora, morta com dois tiros no dia 1º de agosto do ano passado.
— Dos sete jurados, tenho certeza de que pelo menos cinco deles são evangélicos — disse o inspetor Joel Nobre, chefe do Núcleo de Homicídios da 64ª DP (Vilar dos Teles), que esteve à frente da investigação que levou Solange e mais três pessoas à cadeia.
Segundo o advogado assistente da promotoria, Jorge Luiz Souza, várias vezes o advogado de defesa usou a palavra “evangélico”, para sensibilizar o júri.
— Ele disse que Jesus foi o primeiro criminalista e ainda fez uso de citações bíblicas, como “O salário do pecado é a morte”. Isso sem falar que, nas palavras dele, minha sobrinha seria uma destruidora de lares. É claro que tudo isso tem muito impacto sobre a decisão tomada por um grupo formado principalmente por evangélicos — disse a tia de Lia, Ruth de Figueiredo, de 53 anos.
O advogado Natã não foi encontrado para falar sobre o caso. Já o juiz Marco José Mattos Couto, da 1ª Vara Criminal de Queimados, classificou como “esdrúxula” a decisão dos jurados que, na noite de segunda-feira, votaram a favor da libertação de Solange.
— Eu e todos que estávamos aqui na sala do Tribunal do Júri ficamos supresos. Ninguém poderia prever que a maioria do júri fosse tomar aquela decisão — disse o juiz.
Na semana passada, foi condenada Alessandra Campello Freire de Oliveira, de 24 anos, no mesmo Fórum de Queimados, a cinco anos de reclusão, por ter sido cúmplice na morte de Lia. Segundo o juiz, durante o julgamento, Alessandra explicou detalhadamente a maneira como Solange havia elaborado o assassinato da ex-nora.
— Quando o resultado saiu, um dos jurados que votaram a favor da condenação começou a chorar, tamanha foi a surpresa — disse o juiz.
O Ministério Público recorrerá da decisão.
* Do Extra
O primeiro passo foi dado. Lamentável primeiro passo.
Reino Unido autoriza clínica a eliminar portadores de falha genética que causa estrabismo
Londres. Pela primeira vez, um país deu autorização para a seleção de embriões por motivos estéticos. Uma clínica de reprodução assistida de Londres recebeu autorização da Autoridade Britânica de Fertilização e Embriologia para selecionar embriões sem uma falha genética associada ao estrabismo severo hereditário. A clínica London Bridge foi procurada por um casal fértil que deseja assegurar que não terá um filho vesgo.
O homem, um executivo de Londres cujo nome não foi divulgado, é profundamente estrábico, assim com o pai dele. Para evitar ter um filho com o mesmo problema — já que a condição é hereditária — ele optou pela reprodução assistida com seleção de embriões.
Hoje, embriões já são selecionados para a eliminação daqueles com defeitos genéticos associados a doenças graves, como fibrose cística. Porém, no caso do britânico, a principal motivação foi estética. O governo disse que o caso foi analisado por seu próprio mérito e que não se tornará a regra no país.
A seleção tem o nome técnico de diagnóstico pré-implantação e se baseia na retirada de uma célula de um embrião com cerca de três dias. Nesse estágio, um embrião tem oito células. Os embriões sem falhas genéticas são implantados no útero da mãe.
A autorização deflagrou uma onda de protestos de grupos de direitos humanos e de defesa da vida, para quem a prática é uma forma de eugenia e abre um precedente perigoso. No entanto, o diretor da clínica, Gedis Grudzinskas, disse que o estrabismo não é apenas um problema cosmético. De acordo com ele, neste caso em particular, o candidato a pai sofre de uma condição chamada fibrose congênita dos músculos extra-oculares.
— Em pessoas com este problema os músculos que controlam a orientação dos olhos são gravemente anormais, assim um olho pode estar voltado para a direção oposta do outro. Isso dificulta inclusive a comunicação, pois você nunca sabe para onde a pessoa está olhando — disse
O paciente de Grudzinskas já foi operado seis vezes, mas conseguiu apenas uma pequena melhora em seu problema. O médico disse que será cada vez maior o uso da seleção genética para eliminar problemas estéticos graves. E Grudzinskas não vê qualquer entrave ético na seleção estética. Ele disse ao jornal inglês “Daily Telegraph” que não hesitaria, por exemplo, em selecionar um embrião somente pela cor do cabelo, se este fosse o desejo dos pais e houvesse autorização do governo.
— Se um dos pais fosse asmático e pudéssemos detectar genes ligados à asma, eu também faria o procedimento. Tudo depende do grau de angústia familiar — afirmou ele ao jornal britânico.
O especialista em bioética David King, da ONG Human Genetics Alert, disse que a seleção só deveria ser usada para eliminar falhas de DNA que ameaçam a vida.
— Não é justo descartarmos embriões com a mesma expectativa de vida dos demais somente por motivos estéticos. Isso abre um caminho perigoso para todo tipo de violação ética — declarou King.
Publicado no jornal O Globo em 9 de maio de 2007.
Rei? Mas quem é rei não perde a majestade ...
Paulo Coelho
Tenho grande admiração por Roberto Carlos. Continuarei comprando seus discos, mas estou chocado com sua atitude infantil
Tenho uma grande admiração por Roberto Carlos -recentemente, um dos mais importantes programas da BBC Radio me perguntou a lista de cinco discos que eu levaria para uma ilha deserta, e incluí um dos seus. E, apesar dos problemas normais decorrentes de uma relação profissional, tenho um grande respeito pela editora Planeta, que publica minhas obras no Brasil e em vários países de língua espanhola.Dito isso, é com grande tristeza que leio nos jornais que, na 20ª Vara Criminal da Barra Funda, em São Paulo, os advogados do cantor Roberto Carlos e da editora Planeta fizeram um acordo que prevê a interrupção definitiva da produção e comercialização da biografia não-autorizada "Roberto Carlos em Detalhes", do jornalista e historiador Paulo Cesar Araújo. O editor diz um disparate para salvar a honra, o cantor não diz nada e o autor fica proibido de dar declarações a respeito. E estamos conversados.
Estamos conversados? Não, não estamos, e tenho autoridade para dizer isso. Tenho autoridade porque, desde que publiquei meu primeiro livro, tenho sido sistematicamente atacado.
Creio que qualquer pessoa em seu juízo normal sabe que, a partir do momento em que sua carreira se torna pública, está exposta a ter sua vida esquadrinhada, suas fotos publicadas, seu trabalho louvado ou enxovalhado pelos críticos. Isso faz parte do jogo e vale para escritores, políticos, músicos, esportistas. Nem sempre essas críticas são justas e, muitas vezes, descambam para ataques pessoais.
Recentemente, um jornalista da mais importante revista brasileira disse que "Paulo Coelho não é apenas mais um mau escritor: seu obscurantismo é nocivo. Não se deve perdoá-lo pelo sucesso". Não sei o que estava propondo com essa frase, e não me interessa. Poderia alegar que minha honra está sendo atacada, que me acusa de ser um perigo para meu país, que deseja que eu seja preso. Mas vejo essas diatribes com outra ótica: elas fazem parte do jogo. A única coisa que não faz parte do jogo é a calúnia, e, pelo que me consta, isso não foi tema da ação judicial que levou à proibição de "Roberto Carlos em Detalhes".
Até hoje, desde que publiquei "O Diário de um Mago", há 20 anos, vi milhares de críticas negativas, mas apenas duas ou três calúnias a meu respeito, graças a Deus. Não me dei ao trabalho de contra-atacar porque não achei que valia a pena, embora me reserve esse direito se algo muito sério acontecer. Recentemente, em um jornal espanhol de primeiríssima linha, simplesmente inventaram uma resposta a uma pergunta a que havia me recusado responder. Claro, enviei uma carta ao diretor, e o jornalista teve que arcar com as conseqüências.
Estou pronto para defender minha honra, mas não vou perder um minuto do meu dia telefonando para um advogado e procurando saber o que faço para defender minha vida privada, já que ela não mais me pertence.
Diz o velho ditado: "Quem está no fogo é para se queimar". Eu acrescento: Quem está no fogo é para ajudar a fogueira a brilhar mais ainda. Não adianta o meu editor declarar que fez o acordo "porque o contexto era desfavorável". Ele precisa vir a público explicar qual é esse contexto -ou seja, se estamos falando de calúnia. Neste caso, tem meu apoio integral, pois calúnia é sinônimo de infâmia. Mas, caso contrário, está colaborando para que comece a se criar um sério precedente -a volta da censura.
Roberto Carlos tem muito mais anos na mídia do que eu; já devia ter se acostumado. Continuarei comprando seus discos, mas estou extremamente chocado com sua atitude infantil, como se grande parte das coisas que li na imprensa justificando a razão da "invasão de privacidade" já não fosse mais do que conhecida por todos os seus fãs.
Também continuarei sendo editado pela Planeta, pois temos contratos assinados. Mas insisto: gostaria que minha editora, dinâmica, corajosa, se instalando agora no Brasil, explicasse a todos nós, brasileiros, o que significa esse tal de "contexto desfavorável".
Desfavorável é fazer acordo a portas fechadas, colocando em risco uma liberdade reconquistada com muito sacrifício depois de ter sido seqüestrada por anos a fio pela ditadura militar.
E não entendo por que você, Paulo Cesar Araújo, "se comprometeu a não fazer, em entrevistas, comentários sobre o conteúdo do livro no que diz respeito à vida pessoal do cantor" (Ilustrada, 28/4). Não é apenas o seu livro, cujo destino foi negociado entre quatro paredes, que está em jogo. É o destino de todos os escritores brasileiros neste momento.
Não sei se vou ter as explicações que pedi. Mas não podia ficar calado, porque isso que aconteceu na 20ª Vara Criminal da Barra Funda me diz respeito, já que desrespeita minha profissão de escritor.
PAULO COELHO , 59, escritor e compositor, é membro da Academia Brasileira de Letras. É autor de, entre outros livros, "O Alquimista" e "A Bruxa de Portobello".
Publicado no jornal Folha de São Paulo em 2 de maio de 2007.
Chamem Castro Alves, urgente!
Geneton Moraes Neto
Avocação do Brasil para se perpetuar como republiqueta de décima quinta categoria se manifesta de novo. O trabalho de anos e anos do jornalista Paulo César Araújo, biógrafo de Roberto Carlos, foi para o lixo.
A cena — patética, deprimente, horrorosa, indefensável, injustificável — saiu no jornal: caminhões recolhendo caixas e caixas de exemplares do livro “Roberto Carlos em detalhes” no depósito da editora. Vergonha. Vergonha. Vergonha. A visão de livros incinerados ou triturados é digna da era nazista. Um colunista da “Veja”, André Petry, acertou em cheio: Roberto Carlos manchou para sempre a biografia ao dar esta demonstração de absurda intolerância.
O livro vai ser fisicamente destruído, uma violência inominável. A destruição significa que todas as páginas foram censuradas. Todas as frases. Todas as vírgulas. Todos os parágrafos. Tudo. O veto integral ao livro configura uma violência e um ataque à liberdade de expressão. Abre um precedente perigosíssimo. Dá vontade de repetir a pergunta inútil: “Onde é que estamos?”
Uma voz, vinda das profundezas do inferno, sussurrará: “Calma! Estamos no país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza!” Aqui, nesta republiqueta de décima sexta categoria, um juiz ajuda a decretar a pena de morte para um livro honesto, jornalisticamente correto e bem apurado. Depois, posa para foto com o co-responsável pela violência — o autor da queixa contra o livro!” (quem não leu no jornal perdeu a chance de se indignar: terminada a audiência, o juiz pediu para tirar uma foto ao lado de Roberto Carlos. De quebra, deu ao cantor um CD que ele, juiz, músico amador, gravou nas horas vagas, um arremedo de bossa nova...).
É claro que, na prática, o recolhimento dos exemplares não significa nada. O juiz, o cantor & seus sócios se esqueceram de que, para o bem ou para o mal, a vida intelectual hoje não se apóia em bases físicas, mas virtuais. Quem quiser pode queimar papel à vontade. Porque, hoje, textos existem virtualmente na internet. Não podem ser punidos com a destruição física. O texto integral do livro já circula, livre, nos computadores. Quem quiser pode lê-lo a qualquer momento. É só clicar.
A internet fez este enorme bem à Humanidade: as garras da censura e da intolerância podem ser peludas, intransigentes, violentas, nazistóides e intolerantes, mas são incapazes de decretar a morte de um texto. Hoje, é tecnicamente impossível banir um livro (thank you, Bill Gates! Deus te pague! Aliás, já pagou, em bilhões de dólares). A famosa primeira emenda à Constituição americana proíbe que se crie qualquer instrumento contra a liberdade de expressão e de imprensa. A boa notícia: a internet vem funcionando como uma espécie de Primeira Emenda planetária. Nem foi preciso que se escrevesse esta emenda: ela já entrou em vigor.
O artigo de Paulo Coelho na “Folha de S.Paulo” é brilhante. O grande best-seller teve coragem. Partiu para a briga, o que é uma virtude louvabilíssima, nesta republiqueta de décima sétima categoria em que todo mundo dá tapinha nas costas de todo mundo. Pausa para vomitar. O choque de idéias, obrigatório em ambientes intelectualmente saudáveis, aqui no Brasil é logo substituído pela conciliação. Não por acaso, o Brasil é o que é: um paiseco de décima oitava categoria em que o jornalismo é chato, a literatura é chata, a universidade é chata.
Com raras exceções, a violência de inspiração nazista cometida contra o biógrafo de Roberto Carlos mereceu apenas reações burocráticas da imprensa. Não conheço Paulo César Araújo pessoalmente. Mas ele merece toda a solidariedade. Cadê os editoriais irados na imprensa? Cadê as páginas de reclamação, briga, confronto, questionamento? O assunto não pode morrer assim. Onde estão os editores todos, que não fecham o trânsito na Avenida Paulista e na Avenida Rio Branco para protestar?
O caso Roberto Carlos não é o único. Há outras vítimas de violência: um perfil biográfico do grande poeta Manuel Bandeira, escrito pelo jornalista Paulo Polzonoff, continua mofando no depósito de uma editora, numa cena digna de um filme sobre a Alemanha dos anos 30 — ou do Brasil dos anos setenta! Motivo: herdeiros do poeta investiram previamente contra o livro.
O caso é gravíssimo: um livro, impresso, sequer chegou às prateleiras das livrarias! A violência é até pior do que a cometida contra o biógrafo de Roberto Carlos. O livro sobre o cantor já é de domínio público. Independentemente de ter sido recolhido, destruído, queimado ou triturado, quem quiser poderá lê-lo na tela do computador. Já o livro sobre Manuel Bandeira foi alvejado no nascedouro. Nem chegou a ser distribuído! Manuel Bandeira é um patrimônio do Brasil. Ter acesso à história do poeta é um direito dos leitores. Mas não! Aqui, na republiqueta de décima nona categoria, o livro mofa nos depósitos.
Que fique registrado este protesto, inútil, contra duas violências que acabam de ferir e manchar o ambiente editorial e jornalístico deste paiseco de vigésima primeira categoria: uma cometida contra Paulo César Araújo, biógrafo de Roberto Carlos; a outra, contra Paulo Polzonoff, autor de um perfil biográfico de Manuel Bandeira. O pior é que os que tiveram a chance de ler a biografia de Roberto Carlos garantem que o tom do livro é cem por cento elogioso! O perfil de Manuel Bandeira é apenas uma reportagem alentada. Mas os dois estão condenados! Que paiseco de vigésima segunda categoria é este, em que queixas contra livros honestos e corretos encontram terreno para progredir? Que Congresso é este, que não revê imediatamente as brechas que a Constituição deixou abertas para os abutres da liberdade de expressão? Duas décadas depois da redemocratização, a Censura ameaça emergir de novo das trevas, sob novos disfarces. Que se diga: não, não e não! O Brasil não quer ver de novo este filme de horror: antes, generais de óculos escuros, sargentos e coronéis se davam ao direito de dizer o que deveríamos ler ou não. Hoje, intolerância, intransigência e ganância, escudadas em brechas da lei, ameaçam transformar o Brasil no país da biografia a favor. Quem desafinar o coro vai para a fogueira! Ou para a máquina trituradora! Em aldeias civilizadas, quem se sente ofendido recorre à Justiça. Briga boa é a que vai até o Supremo. O que não se pode, sob hipótese alguma, é censurar cem por cento do conteúdo de um livro, mandar uma edição inteira para o lixo ou condenar uma biografia a mofar no depósito.
Gestos como estes ameaçam inviabilizar a publicação de biografias no Brasil. Se a esquisitice e a intolerância de uma personalidade pública são suficientes para condenar um livro a arder no fogo da censura, as editoras vão fugir da raia antes de embarcar em projetos biográficos. É este, na verdade, o grande prejuízo: quantos e quantos projetos não serão abortados antes de escrito o primeiro parágrafo? Quantos e quantos livros deixarão de ser escritos?
Quem perde? Como sempre, o Triste Gigante; esta nossa velha republiqueta de vigésima terceira categoria — que convive com a insânia, a violência, a iniqüidade, a censura e o horror como se fosse possível tolerar a insânia, a violência, a iniqüidade, a censura e o horror. Não é.
Então, num gesto inútil de desobediência civil, só para mostrar que a capacidade de indignação não morreu, todos deveriam, tendo ou não interesse, acessar na internet o livro que será triturado em breve.
A nós, espectadores deste desfile de horrores, resta o quê? Chamar Castro Alves, urgente: “Dizei-me vós, Senhor Deus!/ Se é loucura/ Se é verdade/ Tanto horror perante os céus!”
Geneton Moraes Neto é jornalista.
Publicado no jornal O Globo em 13 de maio de 2007.